Os 85 anos da morte de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no dia 28 de julho de 1938, foram lembrados na manhã desta quinta-feira (27), no auditório da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória da Assembleia Legislativa de Sergipe (Elese), com a realização do Seminário: ‘Angico: 85 anos depois: Reflexões sobre Lampião e o Cangaço’

Evento reuniu cerca de 50 estudantes

Estudantes e professores do Instituto Luciano Barreto Júnior, tiveram a oportunidade de debater sobre a história do movimento social ocorrido entre o fim do século XIX e início do século XX.

As palestras foram ministradas pelo professor titular do Departamento de História e permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Fernando Sá; e  o professor-doutor e  escritor Antônio Porfírio de Matos Neto (fundador do Museu do Cangaço, localizado no Povoado Alagadiço- Frei Paulo). 

Para a diretora da Escola do Legislativo, Telma Pimentel, é importante debater  com estudantes e  com a  sociedade de um modo geral, temas que marcaram a História do Brasil.

Telma Pimentel, diretora da Elese

“O cangaço é um marco, principalmente de Sergipe, e a Escola do Legislativo, que visa uma educação cidadã e legislativa, não poderia deixar passar em branco os 85 anos de morte de Lampião e  de Maria Bonita em nosso Estado. É necessário registrar o fim da era do cangaço e com isso promovemos essas palestras para mostrar como tudo realmente aconteceu. O tema é muito falado, contado em verso e prosa, e,  através do nosso imaginário, continua gerando muita controvérsia, misturando o fictício com a realidade. Trouxemos dois estudiosos do assunto, o professor-doutor Antônio Porfírio e o professor e historiador Fernando Sá, exatamente para nos dar uma visão sobre esse fato histórico”, destaca Telma Pimentel.

Figura Lendária

O coordenador de Assuntos Culturais da Elese, o jornalista Benetti Nascimento disse ser interessante revisitar a figura lendária que é Lampião.

Subsecretário da Mesa Diretora, Igor Albuquerque

“As histórias do passado contam sobre o facínora, o assassino cruel e assaltante; e quando se vai evoluindo, estudando, pesquisando e procurando saber mais sobre quem é essa figura, descobre por exemplo, um Lampião que influenciou nas questões políticas locais e regionais; nas questões econômicas, na culinária, na indumentária e adereços, na nossa música, que têm um Lampião por trás. A Escola do Legislativo se presta a ser esse espaço privilegiado para essas discussões e reflexões, buscando através dos pesquisadores Antônio Porfírio e Fernando Sá, colocar o Nordeste, área em que Lampião atuou como importante para ser lembrada e conhecida”, entende.

Representando o presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe (deputado Jeferson Andrade), o subsecretário da Mesa Diretora, imortal da Academia Sergipana de Letras e presidente do Conselho Estadual de Cultura, Igor Albuquerque, ressaltou que o cangaço é reconhecido como um movimento do início do século XX, que deixou marcas profundas especificamente no Nordeste brasileiro.

Professor Fernando Sá

“É um movimento cujo seu estudo é de extrema relevância não só em Sergipe, mas no Brasil e fora do país. A Assembleia Legislativa aproveita a oportunidade dessa efeméride, desses 85 anos, para estabelecer um espaço de reflexão sobre o cangaço: será que eram bandidos? Será que era um movimento social? Essas questões estão sendo colocadas aqui no dia de hoje”, observa.

Igor Albuquerque destacou ainda que o tema continua atual, e ressalta que teve a oportunidade de, na abertura do evento, trazer a palavra do presidente do Poder Legislativo, no sentido de que a Assembleia considera que a discussão sobre o cangaço continua sendo atual e relevante. “Para que nós entendamos com profundidade, todas aquelas situações e os antecedentes que levaram ao movimento que deixou marcas profundas no Nordeste brasileiro e no sertão sergipano. Até hoje vemos os comentários das invasões às cidades, sobre a atuação da polícia, atuação de governantes e é sobre isso que estamos aqui com uma plateia formada por muitos jovens para que conhecimento não seja perdido”, enfatiza.

Pesquisas

Escritor Antônio Porfírio

O professor Fernando Sá informou ter começado a estudar o cangaço em 1990. “De lá pra cá, três décadas depois, percebemos que há muito o que se pesquisar, inclusive há uma recuperação dentro das universidades, do tema com abordagens completamente extintas, trabalhando com a memória digital que tem sido produzida em canais do Youtube, associações e academias relacionadas ao cangaço. Há muito o que se estudar, não sobre o Angicos em si (já que vários pesquisadores se debruçaram sobre o fato), mas a história do cangaço como um todo”, compreende.

O historiador acrescentou que efetivamente da seca de 1877 até a década de 40, o cangaço atravessou todos os estados do Nordeste brasileiro.

“É um fato incontornável apesar de que os livros didáticos e a própria História do Brasil não dão o relevo devido, mas também não pode ser pensado  sem um contexto mais amplo, por exemplo, dos movimentos sócio-religiosos como a Guerra de Canudos, em que o avanço do estado e do capitalismo vai modificar o modo de vida tradicional. Sobre o Angicos, é um patrimônio cultural do estado de Sergipe desde 1989, mas deveria ser do Brasil. Há uma possibilidade de ser um laboratório tanto da História, quanto da Biologia, por ser uma das poucas regiões preservadas da caatinga em Sergipe e eu reputo como lugar importante de memória, não só pela morte de Lampião, mas que seja um laboratório para futuras pesquisas da natureza, da história social que continua pulsando naquela região através de outros movimentos como os Sem-Terras, os Quilombolas e os indígenas”, observa.

Estudante Cauã Oliveira

Sobre a iniciativa da Elese em manter o tema vivo, Fernando Sá disse: “Sem sombra de dúvidas a Escola do Legislativo está desempenhando um papel, uma função que é trazer para a juventude, o conhecimento da nossa história local e do Brasil. O fim do cangaço está ligado diretamente à centralização político-administrativa pós rRvolução de 1930, quando Getúlio Vargas estabelecer um controle das dissidências existentes no Brasil; naquele momento, não só com relação ao cangaço, mas aos movimentos sócio-religiosos (Canudos, Pau de Colher e Caldeirão do Beto João Lourenço)”, enfatiza.

 O escritor Antônio Porfírio destacou a necessidade de preservar a História de Sergipe e a temática do cangaço.

“Já dizia Celso Furtado: ‘Primeiro a gente tem que valorizar o que é nosso’. E o cangaço é uma história triste, mas é nossa; e o papel do Museu do Cangaço é divulgar para atrair o turismo, pois a cultura contribui para a economia, melhorando o fluxo econômico da comunidade do povoado Alagadiço, no município de Frei Paulo. Um evento como esse realizado pela Escola do Legislativo é importante porque uma geração não se comunica com a outra; resgatar esse tema é necessário para entender a problemática do Nordeste a partir do cangaço; trazendo para os jovens a oportunidade de conhecimentos, por isso a importância da contribuição do Poder Legislativo para esse momento tá ímpar que resgata a nossa história”, acredita.

Conhecimentos

A aluna Kaithyn Hallane Bomfim

Atentos e participativos, os jovens estudantes do Instituto Luciano Barreto Júnior, aproveitaram a oportunidade para tirar dúvidas. Segundo o aluno Antônio Cauã Oliveira Santos, a Escola do Legislativo acertou na discussão do tema.

“É uma iniciativa que nos impulsiona e nos motiva ao que nós jovens não temos total conhecimento, porém sentimos a sede de buscar o passado. O Instituto Luciano Barreto Jr. nos motiva a conhecer o passado para sabermos nos basear no futuro. Parabenizo a Escola do Legislativo e os palestrantes e sobre o cangaço, entendo que a coragem de Lampião é admirável; sei que muitas ações dele não foram coerentes para muitos, mas deveríamos usar a coragem de Lampião para cumprir os nossos objetivos e seguir a nossa vida profissional e pessoal”, acredita. 

A aluna do curso de Cidadania e Trabalho, Kaithyn Hallane Bomfim de Jesus, demonstrou interesse na história do cangaço no estado de Sergipe. “Eu sempre quis saber como tudo aconteceu e a influência de Lampião principalmente na música. Gosto muito de Luiz Gonzaga, um cantor que destacou Lampião não só nas músicas, mas nas vestimentas. Precisamos aprender muito sobre esse tema que é nosso”, diz.

Professor Eduardo Melo

O professor Eduardo Melo também destacou a iniciativa das discussões. “Quando chegou o convite para participarmos do evento, achamos muito importante trazermos os alunos e as alunas do ensino fundamental e do ensino médio que fazem cursos no Instituto Luciano Barreto Jr. para participar desse debate”, afirma.

O seminário foi abrilhantado com a  participação musical do Coral da Alese, o Corales. 

Relembre

A fazenda Anjicos, localizada entre os municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, foi acampada pelo bando de Lampião no dia  27 de julho de 1938.

Apresentação do Corales

No dia seguinte (28), os cangaceiros foram surpreendidos com uma emboscada, organizada por soldados do estado de Alagoas, sob o comando do tenente João Bezerra, tendo como consequência a morte de Lampião e Maria Bonita (deixando uma filha de cinco anos, a Expedita).

Também morreram os cangaceiros Luís Pedro, Elétrico, Enedina Moeda, Alecrim, Colchete, Quinta-Feira, Mergulhão e Macela. Outros componentes do bando, fugiram.

Fotos: Jadilson Simões/Alese

 

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