
Sessão Especial celebra o mês do orgulho LGBTQIAPN+
Foi realizada nesta sexta-feira (27) na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese), a Sessão Especial em alusão ao Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, a atividade tem como objetivo celebrar o 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, considerada uma data histórica para a luta pelos direitos da comunidade, a propositura é de autoria da deputada Linda Brasil (Psol).
A deputada Linda Brasil destacou a importância da data comemorativa para a comunidade LGBTQIAPN+, enfatizando seu significado de resistência e afirmação, “É uma data muito importante para a comunidade LGBT, uma data de celebrar as nossas vidas, dizer que não é errado, não é pecado sermos quem realmente somos, amar quem a gente quiser. É um momento para ocuparmos espaços que sempre nos foram negados, seja nas ruas, nas academias ou nas casas legislativas. Estamos aqui para dizer que existimos, resistimos e que precisamos de direitos, respeito e políticas públicas que garantam a dignidade, algo essencial para toda a população. Além do brilho e das cores, a nossa presença também representa voz e força na política e em todas as áreas do nosso estado.”
Palestrantes
Daniela Bento
A educadora popular, cordelista e escritora Daniela Bento ressaltou a importância do 28 de junho como um momento de celebração, mas também de reflexão sobre os direitos da população LGBTQIAPN+. “A gente faz memória a 1969 e reconhece que há uma longa caminhada na luta por respeito e direitos. Estar hoje na Casa do Povo, a convite da deputada Linda Brasil, é muito simbólico, porque ela tem trazido essa pauta para o Legislativo e dado voz à nossa comunidade. Um dos grandes desafios ainda é a falta de dados oficiais sobre as violências que sofremos — somos constantemente subnotificados. É fácil dizer que não há violência LGBT em determinado lugar quando não há registros adequados. Precisamos de políticas públicas que combatam, previnam e registrem essas violências. Casos como o de Laysa Fortuna mostram a gravidade da situação. Por isso, discutir o direito à diversidade é essencial. Nós não somos iguais em nada, então por que deveríamos ser iguais na hora de amar, de nos apaixonar, de viver os nossos amores? O mundo é diverso, e nossos direitos também devem ser.”
Marcelo Lima
O presidente da Associação de Defesa dos Direitos Humanos LGBTI+ do Estado de Sergipe (ADHONES), Marcelo Lima de Menezes, que também é jornalista, radialista, pedagogo e especialista em Gênero, Sexualidade e Educação Inclusiva, destacou a importância da preservação da memória do movimento LGBTQIAPN+ em Sergipe. “Hoje tenho a honra de apresentar um discurso sobre a história do movimento LGBT no nosso estado, desde os anos 1970 até os dias atuais. Trata-se de um estudo acadêmico que desenvolvi justamente para que essa memória não se apague. O tema que trago é ‘Memória, Orgulho e Respeito’, porque muitos companheiros e companheiras deram a vida por essa luta, enfrentando inclusive a ditadura militar, para que hoje possamos estar aqui celebrando o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+. Também destaco a importância da Dialoguei, a primeira instituição organizada de Sergipe e a segunda mais antiga do Brasil nesse contexto, da qual muitos nomes importantes fizeram parte, como Gilvan e Jéssica Taylor. É fundamental manter viva essa história e reconhecer quem construiu essa trajetória de resistência.”
Yasmin Melo
A psicóloga e psicanalista Yasmin Melo Santos, mestranda em Psicanálise e Cultura Contemporânea pela UFS, destacou a importância de garantir o acesso da população LGBTQIAPN+ à saúde mental com qualidade e respeito. “Falar da dignidade da vida da população LGBTQIAPN+ é também falar do direito ao acesso à saúde mental. Infelizmente, muitos espaços clínicos ainda reproduzem e perpetuam violências contra essas pessoas, quando deveriam ser lugares de acolhimento. Precisamos reconhecer que uma escuta clínica qualificada é uma política pública essencial, inclusive para as crianças LGBT, que são frequentemente vítimas de violências nesses mesmos espaços. E as escolas também têm um papel fundamental nesse processo. Elas podem ser ambientes de liberdade ou de violência. Por isso, a presença de profissionais capacitados, que compreendam as especificidades da população LGBT, pode fazer uma enorme diferença na vida dessas crianças e adolescentes.”
Artemis Luisa
A professora de geografia, pesquisadora em geopolítica e artista Artemis Luisa ressaltou em sua fala a importância de compreender que as pautas LGBTQIAPN+ são questões sociais amplas e não exclusivas da comunidade. “É fundamental entender que a pauta LGBT não é apenas dos LGBTs. Quando falamos sobre pautas sociais, estamos tratando da inclusão de todas as camadas da sociedade. É um processo coletivo, de mutualismo, onde um ajuda e constrói o outro em prol de um futuro mais justo. Ao discutir políticas públicas, não devemos isolar a população LGBT, porque ela está inserida em diversos grupos sociais, como pessoas pretas, quilombolas, assentados, pessoas com deficiência. Quando unimos essas vozes, construímos uma proposta de futuro anticapitalista, mais humana, onde a sociedade realmente tem voz. E é importante também ressignificar o termo ‘minoria’, que não se refere a quantidade, mas à exclusão histórica dos espaços de poder e à ausência de leis que nos protejam. Como já refletia Lélia Gonzalez nos anos 70 e 80, ser minorizado é uma condição imposta, não uma realidade numérica. Precisamos empoderar esse termo e mostrar que somos muitos, que temos força e voz.”
Homenagem
Além das palestras, houve uma homenagem póstuma a Aragão D’Castela que faleceu há seis meses, além disso o artista Bendito Letrado foi homenageado pela sua contribuição à comunidade LGBT no Estado de Sergipe.
Benedito Letrado
O artista Benedito Letrado destacou a importância do reconhecimento de sua trajetória e da luta artística dentro da comunidade LGBTQIAPN+. “Hoje é uma homenagem, um reconhecimento ao meu trabalho, principalmente como referência no transformismo e na arte caricata. Sempre atuei no teatro, vestido de mulher, numa época em que nem se falava em trans ou travesti. Tirei essa arte dos cantos escuros da noite e levei para os grandes palcos. Dedico essa homenagem a todos os precursores que, como eu, abriram caminhos — artistas como Lisboa, Hipólito Góes e tantos outros que partiram, muitos de forma violenta. Tenho uma vida inteira dedicada a esse universo, e o que me move é o orgulho e a resistência. Mesmo sendo um universo por vezes marginalizado, seguimos firmes, existindo e resistindo.”
Foto: Joel Luiz| Agência de Notícias Alese