Fortaleza tem PDT de Ciro e Cid em crise, PT com apetite e direita dividida para 2024
A disputa pela Prefeitura de Fortaleza passa por um desatar de nós dentre os três principais grupos políticos da capital cearense. As quedas braço internas vão definir quais nomes estarão nas urnas em outubro de 2024, com chances de surpresas e reviravoltas até o início da campanha.
O principal desafio será enfrentado pelo prefeito José Sarto (PDT), que se movimenta para concorrer um novo mandato, mas enfrenta resistências dentro de seu próprio partido.
O PDT vive uma crise interna desde o rompimento com o PT antes das eleições estaduais de 2022, movimento que opôs dois dos principais líderes do partido: os irmãos e ex-governadores Cid Gomes e Ciro Gomes.
Sarto faz parte do grupo ligado a Ciro que defende que o PDT permaneça na oposição ao governador Elmano de Freitas (PT). Do outro lado, estão os aliados do senador Cid Gomes, que acirraram o fogo amigo contra o prefeito e atuam para construir alternativas dentro do partido.
Com dois anos e meio de mandato, o prefeito enfrenta uma série de desgastes na gestão em áreas como a saúde e transporte público, além de ter instituído uma taxa municipal de coleta de lixo que despertou a ira de parcela da população.
Mas Sarto diz que trabalha para reverter o quadro adverso e que há tempo para mostrar trabalho e recuperar popularidade até o próximo ano, mantendo o PDT como alternativa entre a esquerda liderada pelo PT e a direita bolsonarista.
“Estou preocupado em fazer a gestão da cidade, fazendo um esforço concentrado em para melhorar a área que a população tem questionado, com razão, que é a saúde”, diz prefeito, que é médico e se elegeu em 2020 tendo o tema como uma das principais bandeiras.
Ele dispara contra o governo do estado ao falar das carências do município na área de saúde, afirmando que ao menos metade dos pacientes atendidos na rede municipal vêm de cidades do interior. E critica as obras estaduais que estão paralisadas na capital: “A sensação é que há um boicote”.
Com relações estremecidas, o prefeito e o governador não se encontraram para discutir temas da capital neste ano até agora.
A candidatura de Sarto em 2024 tem o apoio do diretório nacional do PDT, comandado interinamente pelo deputado federal André Figueiredo (CE), que diz que não há possibilidade de o prefeito ser barrado em sua tentativa de reeleição.
Mas o clima é diferente no diretório estadual, que passou a ser liderado por Cid Gomes após um acordo costurado nacionalmente. Ao assumir o cargo em meados de junho, o senador falou em “virar a página” do rompimento com o PT e evitou cravar Sarto como candidato em 2024.
“O que é importante, você lançar um candidato ou que esse candidato vença? A resposta óbvia é que o candidato vença”, afirmou.
O senador disse que vai trabalhar para que PT e PDT estejam juntos em Fortaleza, o que não aconteceu nas últimas cinco eleições na capital cearense. E destacou que, antes de definir qual será o nome, o grupo deve preparar um projeto para Fortaleza e formar um arco de alianças competitivo.
Dentre os aliados de Cid Gomes no PDT, quem se movimenta para concorrer à prefeitura é o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, que tem disparado críticas à gestão Sarto. Questionado sobre os planos para o próximo ano, foi sucinto: “Só vou tratar de 2024 em 2024.”
Nos bastidores, contudo, o movimento do pedetista tem sido incentivado pelo governador Elmano de Freitas e por aliados do ministro da Educação Camilo Santana (PT).
Uma das possibilidades é que Evandro Leitão concorra à prefeitura pelo PT. Mas o movimento esbarra nas regras de fidelidade partidária, que podem colocar o mandato de deputado estadual em risco, e em resistências no próprio ninho petista.
O PT governou Fortaleza de 2005 a 2012 com Luizianne Lins, hoje deputada federal, e mostra apetite para tentar voltar ao comando da prefeitura com o apoio do presidente Lula. A avaliação é que Fortaleza será a melhor chance do PT vencer em ao menos uma das grandes capitais brasileiras.
Luizianne, que foi derrotada ainda no primeiro turno nas duas últimas eleições, se movimenta para concorrer ao cargo pela quinta vez. Mas enfrenta resistências internas de uma parcela do partido, que defende a escolha de um novo candidato.
Um desses nomes é o da deputada estadual Larissa Gaspar, que se colocou à disposição do PT para concorrer à prefeitura e defendeu a renovação.
“Entendo que partido precisa oxigenar seus quadros, fortalecer as novas lideranças e dar protagonismo para as mulheres”, diz a deputada, que descarta uma aliança com Sarto. Outros possíveis candidatos no PT são o deputado estadual Guilherme Sampaio e o ex-deputado Artur Bruno.
Assim como a esquerda, o campo da direita também tende a se dividir em Fortaleza no próximo ano. Derrotado em 2022 na disputa pelo governo do Ceará, o ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) confirma que vai concorrer à prefeitura pela terceira vez consecutiva.
Em fevereiro, em um movimento que surpreendeu parcela do mundo político, Wagner assumiu a Secretaria de Saúde de Maracanaú, cidade da região metropolitana.
Em sua primeira experiência em um cargo no Executivo, o ex-deputado atua para ir além das pautas de segurança que o catapultaram para a política a partir de motins de policiais militares em 2011 e 2012.
Ao mesmo busca se afastar da pecha de bolsonarista e se vende como uma espécie de “self-made man” que veio da periferia de Fortaleza e ascendeu na política com as próprias pernas: “Não estou preocupado com discussão ideológica.”
Desta vez, contudo, ele terá um adversário competitivo no mesmo campo político. O PL lançou a pré-candidatura do deputado federal André Fernandes, nome que deve galvanizar a ala mais radical da direita cearense e deve ter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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